Boa Vista
Vídeo-instalação realizada para a 25a Bienal de São Paulo. Núcleo Cidades - São Paulo. 2002.
O projeto consistiu na documentaçãode três estações de trem situadas no eixo Rio de Janeiro e São Paulo (Agulhas-Negras e Engenheiro Passos no Rio, e Queluz em São Paulo). Este projeto é composto por três vídeos e um livro. O livro é um lugar de atualização desta obra e não uma documentação da mesma.
As imagens captadas apresentam o abandono das edificações e perda das funções originais desses espaços. Uma delas tornou-se residência dividida por várias famílias, e outra encontrava-se fechada. Essas imagens apresentam um estado de tempo em iminência, pois muito pouco ocorre na sequência de imagens paradas, quase fotográficas. As mútiplas vistas em constante looping de cada uma das estações documentam as fachadas e o que há à sua volta, buscando reconstituir o espaço arquitetônico e seu entorno.
O título Boa Vista refere-se ao primeiro nome dado à Estação Engenheiro Passos, mas também a algo nostálgico, do passado destas edificações. A ferrovia relacionada às edificações documentadas passa ao lado da Rodovia Presidente Dutraou BR 116, e faz a ligação entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. O som proeminente que se ouve na trilha de cada vídeo é o desta Rodovia. Na ediçãoda trilha sonora, o som de cada uma delas foi sobreposto, constituindo uma trilha comum aos três vídeos. A espacialização deste projeto ocorreu pela primeira vez no pavilhão da Bienal de São Paulo. O projeto consistiu numa sequência de três vídeos, projetados na altura dos rodapés da sala. Foi construída para a instalação uma sala de 20 metros quadrados, e os vídeos foram assim projetados em três diferentes paredes. A idéia de apresentar os vídeos em escala reduzida próximo ao chão visava aproximar as imagens a modelos ou maquetes, identificando-as com a disfunção original destas arquiteturas e a possibilidade de montagem das partes pelas diferentes vistas, como na idéia de um modelo.
Esta video-instalação pensava as políticas de representação do projeto desenvolvimentista. Embora as imagens apresentassem as estações, o som era basicamente constituído pelo fato sonoro contínuo da Rodovia Presidente Dutra. Em alguns pontos do vídeo, podia-se ouvir o som do trem (cargueiro) na trilha comum que reúne o som dos três vídeos – o que passa tanto nas imagens de Queluz como nas de Engenheiro Passos e Resende.
Ao documentar o lado oposto ao da Rodovia, o das estações de trem, temos imagens durativas e poucas situações de ação ocorrendo. O que se ouve, no entanto, é a proeminência sonora da Rodovia, que nos vídeos não se vê.
No caso do projeto Boa Vista, esta “imagem da representação” do que seria o projeto desenvolvimentista em seus aspectos positivos que geralmente são os pontos de vista mais difundidos, não fica explicitada, o que apresentaria uma posição ou visão triunfalista de representação da História, mas sim um ponto de vista crítico (na medida em que, neste trabalho, as imagens apresentam-se em diversos planos, distanciamentos e posições distintas e também porque os objetos desta representação são o passado em ruínas, as estações de trem).


Boa Vista. Stills dos vídeos.


Stills do vídeo: estação Engenheiro Passos.

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