Movimento involuntário

involuntary movement


Este projeto foi realizado em duas partes - uma fotográfica e uma videográfica. As fotografias foram realizadas a partir de um objeto que simulava um ramo de planta (samambaia). De acordo com a imagem subsequente à primeira, podemos entender que se trata do processo de brotação de uma planta, que, neste caso, foi realizado pela manipulação de uma planta falsa. A planta fotografada possui a capacidade de manipulação por se tratar de um objeto de plástico revestido de arame que, em sua forma final, imita o desenho de uma planta verdadeira.

A foto subsequente à primeira (a da brotação) foi realizada com o intuito de produzir a dúvida da condição indicial da imagem, pela coerência do desenho desta brotação e pelo enquadramento fotográfico. As duas imagens funcionam como framesde um vídeo em que o tempo de modificação/brotação da planta é suprimido pela idéia de frames sequenciais/temporais de um mesmo objeto. Neste díptico, verifica-se o interesse constante pela idéia de imagem-tempo tal qual descrita por Gilles Deleuze. A imagem-tempo deleuziana propõe uma duração que neste caso está subentendida e submetida à lógica do frame videográfico.

De toda forma, este díptico ainda é fotografia, e por isto apresenta-se como still. O que me interessa nesta questão é a fotografia tornada frame, e basta ter dois frames para haver “movimento”. A supressão do tempo de brotação que sempre é lento faz o comentário sobre a imagem-movimento que é potencialmente arrancada do tempo.





fotografia (díptico) movimento involuntário/ involuntary movement. Exposição Paralela // 2004. Curadoria de Moacir dos Anjos. 50 x 70 cm cada (montagem em metacrilato).
Involuntary Movement. SNEZEE 80X80. Featured-Film 


A segunda parte deste projeto consistiu em um vídeo realizado para o projeto SNEZEE 80 x 80, curado por Natasha Makowsky e Peter Lewis. Para a realização deste projeto, foram convidados 80 artistas do mundo inteiro a realizar um feature-film (longa-metragem), com partes de filmes autorais de 80 minutos por autor. Os curadores fizeram a montagem final do filme com o uso dos filmes de 80 minutos de cada um dos participantes. A única provocação que fizeram foi a idéia de sneeze (espirrar). Quando recebi a carta-convite dos curadores pensei no SNEEZE como um movimento involuntário, que dá também o título do trabalho Involuntary Movement*. Este foi, portanto, o mote do vídeo: realizar a brotação de uma planta em 80 minutos com as próprias mãos. Ao contrário das imagens fotográficas que não revelam os frames do processo, no vídeo realizo a ação da brotação na planta falsa (o processo em si). Além da ação, soma-se a ela o som. Filmado em espaço aberto, ao fundo da planta e da ação não se vê nada, apenas a luz, mas o som é da natureza (vento e pássaros).

*A filmagem desta ação foi realizada por Wagner Morales enquanto eu atuava fazendo a brotação. 



As imagens de natureza e brotação são o próprio clichê de si mesmas. Mesmo sendo imagens- movimento, tratam de uma aceleração do tempo da imagem. O comentário dirige-se diretamente ao tempo que é fisicamente forçado e manipulado. Embora toda a operação seja uma ação sobre uma planta falsa, a manipulação é verdadeira e a imagem recorre à produção do tempo na própria ação, “naturalizando-a”. A falsa brotação remete à montagem no filme (lugar do tratamento das velocidades) que é desnecessária neste processo, porque a cena segue na temporalidade de sua aceleração forçada na mesma sequência fílmica.



stills do vídeo movimento involuntário/ involuntary movement realizado para a exposição SNEZZE 80X80.featured-film. Gazon Rouge Gallery. Curadoria de Natasha Makowsky e Peter Loyd Lewis. Atenas, Grécia. 2005.

︎
CARGO COLLECTIVE, INC. LOS ANGELES, CALIF. 90039—3414